Onde estão os jovens desta geração?



Onde está o grito da mudança e o som do fazer-se diferente? Já não há jovens nesta geração!
São todos covardes, tolos e medrosos. 

Onde está a tenacidade de Martin Luther King, Nelson Mandela e Amílcar Cabral?
Perdoa-me Cabral! Perdoa-me Luther King! Perdoa-me Mandela! Mas, os jovens desistiram das vossas lutas. Já não querem liberdade e amam o cativeiro deste sistema hipócrita. Curvam-se diante de gravatas vermelhas de um Tramp(a) qualquer e mataram o último Obama.

Já não querem lutar, Cabral. Não. Não querem dar continuidade à tua nobre luta. Desistiram de ter voz. São, agora, porcos acomodados e inúteis. Presos em telas que levam ao nada. 

Tentei chama-los, Luther King, e mostrá-los que ainda temos um sonho pelo qual lutar. Sim, eu disse-lhes, Mandela, eu disse-lhes que somos irmãos e que não há segregação. 

Lembrei-lhes, Cabral, lembrei-lhes, que prometemos ser flores da tua árvore da revolução. Mas, não me ouvem. Estão ocupados a ensinar às crianças o “txoma minis” e não me dão ouvidos. Estão a destruir o nosso jardim, Amílcar, e nas nossas flores morreu a revolução.

Os jovens já não querem ser Da Vince. Já não pintam quadros com a sua imaginação. Já não querem ser Pitágoras, porque vivem sem leis ou formulas. Já não querem ser Messias do seu próprio destino.

Já não têm paixões, nem sonhos, nem alvos, nem ambições. São ocos, vazios, sem odor ou sabor. São ásperos, brutos, imundos, sem conduta, sem cultura, sem costumes. Odiadores do conhecimento. Amantes da luxúria, da desordem e de ideias vãs. Já não há poesia em sua atmosfera. Tudo chega. Tudo passa. Tudo é nada.

Tocam-se melodias mas, não se lhes toca o coração. Estão cegos. Parvos. E mudos. Os mestres desistiram de seus pupilos. Fizeram dos livros objecto de humilhação em praça pública. E a única mestria que procuram é o da ignorância profunda e frívola.  

Queria eu ter a mestria das palavras de Shakespeare para trazê-los à razão!  
Largaram suas armas e abandonaram os campos de batalha. Transformaram os templos de conhecimento e sabedoria em mercado de banalidades e ensinos infundados. Conspiram contra o mundo e a sua essência. Desistiram do paraíso perdido, pelo qual tanto lutamos.

Tenho vergonha destes covardes. Destes fracassados. Destes filhos de vento, netos da inutilidade. Não quero ser parte desta corja. Quero a minha luta. Sei que ela continua. Lutarei sozinha se for preciso mas, não me juntarei a estes porcos à procura de pérolas em bucho de peixe. Vou guiar meus passos em caminhos iluminados com sonhos e despir-me-ei desta preguiça doentia, a que me deteve este sistema falhado. 


Comentários

Mensagens populares deste blogue

“Eu esperava mais da literatura cabo-verdiana” - José Eduardo Agualusa

Porque é que amantes de livros preferem cafés e felinos?

Oji N konxi omi di nha vida (La Mujer di mi Vida) - Nicolas Barreau