O dia em que fui sexualmente violentada
Ele tocou
meus seios sem permissão!
Guardei este segredo por muito tempo, com medo de o contar.
Mas hoje, mais do que nunca, estou disposta a despir-me completamente e mostrar
todas as cicatrizes daquele coito sem permissão.
Se for sensível o coração do leitor peço apenas que não
continue leitura. Porque, hoje, vou expor sem medo verdades sórdidas daquela
violação desmedida. Pense bem se quer saber os detalhes desta história e não
continue se não tiver estomago para isso.
Eu sei que os porcos estúpidos vão apedrejar-me. Afinal, “a
culpa é sempre dela”. Com ou sem culpa vou desenterrar este fantasma. Eu!
Porque daquele dia em diante fui apenas um fantasma.
O meu marido, o homem com quem divido a cama, o amor e os
sonhos, ficou desconcertado diante desta verdade aterradora. Agora, ele entende
que o meu pudor não era inexperiência ou nojo e que as noites de amor com luzes
apagadas escondiam medos e traumas.
- Ele tocou meus seios sem permissão. – Disse eu ao meu
marido, sem contexto ou introdução. Ele levantou-se da cama apressadamente,
acendeu as luzes, olhou-me nos olhos e apenas perguntou: - Quem?
- Eu tinha apenas 14 anos quando aconteceu. No auge da minha
rebeldia infantil de adolescente. Bem, rebeldia para os meus pais, diante de
quem até hoje sou apenas uma incompreendida.
Lembro-me nitidamente daquele homem. Nem vou contextualiza-lo
ou descreve-lo com exatidão, porque não é ele o protagonista deste drama. Até
porque para ele, fui apenas mais uma, cujo nome nem sei se se lembra. Alias,
claro que se lembra! Mas, eu só quero que o leitor dê atenção aos factos.
Não me lembro exatamente a sequência dos acontecimentos. Porém,
algo que tenho claro é que fui traída pela minha própria confiança, de que há
no mundo pessoas boas, de que a generosidade é sempre genuína e que podemos
sempre confiar em quem nos deixa à-vontade para contarmos os nossos segredos e
anseios. Mentira! O predador pode estar mais perto do que o leitor imagina. E
no meu caso podia ser um protetor ou o meu próprio progenitor! Enfim, não foi esse
o caso! Nem feliz, nem infelizmente, ninguém é ilibado! Nem família, nem guia
espiritual, nem amigo ou professor. Só não revelo a identidade desse maldito
agressor porque não quero dar palco a esse doente depravado.
Lembro-me da minha angústia quando ele tocou meus seios sem
permissão. Desabotoou a minha intimidade sem qualquer receio, e nem lhe
importava o meu protesto. Estava paralisada pelo medo. Tentando entender o que
me passava, enquanto tomava pouco a pouco consciência de que a minha inocência
começava a ser violada.
E mais uma vez advirto ao leitor, se não tiver estomago para
isso aconselho-o a não seguir leitura!
O meu olhar de pavor refletia-se com perfeição naqueles seus
olhos animais, ferozes, ardentes de um desejo proibido e criminoso. Eu não lhe
havia dado permissão mas, quem acreditaria em mim?
Diante de mim estava um desconhecido, que desnudava pouco a
pouco o meu corpo, explorando partes intimas que eu, de forma alguma, pretendia
revelar. Doía, doía muito, não sei se era no corpo ou na alma, mas era enorme a
minha dor.
Comecei então a entender que era prisioneira de um pervertido,
a cada toque sem consentimento, ao alento do seu hálito fétido e desagradável,
daquela voz quente e nojenta ao meu ouvido a proferir disparates que até o
diabo se recusaria a ouvir.
Chantagens. Ameaças, que pouco a pouco foram dando forma
àquele episódio tenebroso, que faria para sempre parte das minhas memórias mais
indesejáveis. Ele agarrou com força a minha mão e obrigou-me a sentir a ereção
do seu órgão, tentando convencer-me de que aquele efeito era culpa minha, que o
havia deixado assim, e como consequência teria de fazer o meu “trabalho” e
satisfazê-lo.
Teria de começar com a boca e deixar que aquele instrumento
viajasse por todo meu corpo, que naquela altura já estava completamente nu, impossibilitando
qualquer tentativa de esconder a minha vergonha. E por alguns instantes senti-me
realmente culpada. Só queria que aquele momento acabasse. Queria morrer. Mas a
minha dor apenas começava.
Estava prestes a ver a minha inocência arrancada sem
remorsos, num coito doloroso e não consentido, repito, não consentido! Tive de
sentir alguém tocar onde nunca ninguém havia tocado e sangrava-me os olhos e o
corpo. E ele gritava diante da dificuldade de entrar: “Não chores! Já és uma
mulher. Abra já estas pernas e para de chorar”!
Tinha a voz travada, os dentes renhidos e o corpo
completamente contraído o que aumentava ainda mais a minha dor. Mas, já nem
conseguia gritar e ele não parava. Tentava vezes seguidas entrar onde não era
convidado. E quando o consegui pareceu-me que algo em mim havia sido dilacerado,
quebrado, rasgado. Talvez a página de uma história que daquele momento em
diante nunca mais seria a mesma. E gritei. Gritei muito. Gritei de dor, muita
dor, de um profundo arrependimento e uma grande culpa que nem sequer era minha.
Morri naquele momento. Ainda morta na alma, tive de ouvir
aqueles gemidos asquerosos, enquanto ele se movia em mim, sem qualquer pudor,
até que terminou, completamente suado e molhado. E aqueles olhos, que antes
disso eram desejosos de mim, deram lugar ao desprezo. Começou a dizer-me
palavras hostis, convencendo-me de que eu era a suja, uma porca mentirosa, em
quem ninguém iria acreditar. Afinal, era ele a vítima da minha suposta
provocação.
Para mim, não houve medida protetiva. Para o meu agressor, nem
TIR, nem prisão preventiva. O veredito final? “O pagamento de uma indeminização
de 250 contos e proibição de contacto com a vítima”. Duzentos e cinquenta
contos? Estas foram as vezes que tive de contar a mesma versão dos factos
diante de agentes, investigadores, inspetores e do juiz. Eu, frente a frente com
o meu agressor, ele sai em liberdade e eu tive de viver todos esses anos presa
nesse meu pesadelo, sem justiça ou solidariedade!
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Esta história não é minha, mas não deixa de ver verídica.
Evelise Raven Carvalho
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